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28.6.14

Resolver problema de construção, usando análise e síntese (4)


Problema:     Construir um triângulo isósceles de que se conhecem o circulo circunscrito e a soma da base com a altura correspondente.
Th. Caronnet, Exércices de Géométrie. Vuibert. Paris:1947

Para obter a solução por construção, temos de fazer a análise do problema a partir do problema como se ele estivesse resolvido.
  1. Suponhamos o problema resolvido: Teremos um triângulo isósceles \;[ABC]\; (AB=AC),\; inscrito no círculo circunscrito \;(O)\; dado e tal que a altura \;AD=h\; e a base \;BC=a\; têm soma dada \;s=a+h.\;
    • Num triângulo isósceles a altura \;AD\; bisseta a base \;BC,\; por isso passa pelo circuncentro \;O\;. Podemos escrever \;AD+2BD=s.\; Quando prolongamos \;AD\; até \;E\; tal que \;DE=BC,\; temos \;AE=s\; e \;2BD=DE,\; donde \;\displaystyle \frac{BD}{BE} =\frac{1}{2}.
    • Se prolongarmos \;EB\; até encontrar no ponto \;F\; a tangente a \;(O)\; tirada por \;A\;, temos um novo triângulo \;[EAF]\;, retângulo em \;A\;, que é obviamente semelhante ao triângulo \;[EDB]: \;\;\; \displaystyle \frac{AF}{AE}=\frac{DB}{DE} = \frac{1}{2};\;\; \;\;AE=s\; e \;\displaystyle AF=\frac{s}{2}.\;
A construção (sintética, a seguir) é sugerida pelas relações descobertas na análise. Pode segui-la fazendo variar os valores de \;n\; no cursor \;\fbox{n=1,..., 6}.\;

© geometrias, 28 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra



  1. É dado um segmento de comprimento \;s=a+h\; e uma circunferência de centro \;O\; circunscrita do triângulo procurado.
  2. Assim, começamos por tomar para vértice \;A\; um ponto qualquer da circunferência dada e traçamos o diâmetro que passa por \;A\; e contém a altura \;h\; relativa a \;a.\;.
  3. De acordo com o sugerido na análise feita, interessa determinar o ponto \;E\;, desse diâmetro tal que \;AE=a+h\;: \;AO.(A,s).\;
  4. E, em seguida, determinamos o ponto \;F\; da tangente a \;(O)\; tirada por \;A\; e à distância \;\displaystyle \frac{s}{2}\; de \;A.\;
  5. A reta \;EF\; interseta a circunscrita \;(O\;)\;, para os dados da nosso problema, por exemplo, \;B\;. A perpendicular a \;AE\; (ou paralela a \;AF\;) interseta \;(O)\; num ponto \;C\;, para além de \;B\; e \;AE\; em \;D\;. O triângulo \;[ABC]\; de altura \;AD\; é uma das soluções do problema: Como, por construção, \;O \in AE,\; e \;AE\perp BC, \; então \;AD=DB\;. Assim fica provado que \;[ABC]\; está inscrito em \;(O)\; e é isósceles. □
  6. Outra solução, será o triângulo \;[AB_1C_1]\; de altura \;AD_1\; e base \;B_1C_1\;
Para cada \;A\; de \;(O)\; haverá duas soluções, para os dados que se mostram inicialmente. Fazendo variar o comprimento do segmento \;s\; pode ver em que condições há 0, 1 ou 2 soluções para o problema

26.6.14

Resolver problema de construção, usando análise e síntese (3)


Problema:     Num dado triângulo, traçar uma linha paralela à base de tal forma que se se traçarem a partir dos seus extremos linhas paralelas aos lados até cortarem a base, somadas meçam o dobro que a linha inscrita. (31/12/1881)
Charles Lutwidge Dodgson, Um conto enredado e outros problemas de almofada. RBA: 2008

Para obter a solução por construção, temos de fazer a análise do problema a partir do problema como se ele estivesse resolvido. (ilustrada, na figura, para os valores \;2\;de \;n\; no cursor \;\fbox{n=1,..., 4}.\;
  1. São dados \;A, \;B, \;C\;. Resolver o problema consiste em determinar, por construção, pontos \;C'\; sobre \;AB\; e \;B'\; sobre \;AC\;, de tal forma que \;B'C' \parallel BC \wedge C'E+B'D = 2\times B'C',\; sendo \;D, \;E\; pontos de \;BC\; e \;B'D \parallel AB\; e \;C'E \parallel AC. \;
  2. Supor que o problema está resolvido é supor que \;B'C'\; está situada de tal forma que \;B'D\; e \;C'E\;, paralelas aos lados, somados dêem \;2B'C'.
    De acordo com a proposição 34 do Livro I dos Elementos de Euclides
    \;B'D =C'B\; e \;C'E=B'C\; e portanto \;B'C + C'B = 2B'C'.
    E há um ponto \;L\; de \;B'C'\; que o divide em duas partes sendo uma igual a metade de \;B'C\; e outra igual a metade de \;C'B.\; Se deteminarmos este ponto \;L,\; por ele passa uma única paralela a \;BC...

  3. A construção (sintética, a seguir) está ilustrada para os valores \;3,\; 4\; de \;n\; no cursor \;\fbox{n=1,..., 4}.\;

    © geometrias, 25 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra



    Considerando a decomposição (análise) do problema antes feita, apresentamos, agora sinteticamente, os passos da determinação da reta \;B'C'\; .
  4. Para determinar o ponto \;L\; sobre \; B'C'\; paralela a \;BC,\; de tal modo que \;2LC'=C'B\; e \;2LB'=B'C \; (i.e. \;2(LC'+LB')= 2C'B' =C'B+B'C = B'D+C'E\; ), podemos usar um ponto \;F\; qualquer de \;AB\; (ou de \;AC\;) e por ele tirar uma paralela a \;BC.\;
  5. Depois é só tomar \;G\; sobre essa paralela de tal modo que \;2FG =FB\; e \;L\; estará sobre a reta \;BG.\; Claro que, fazendo o mesmo para o lado \;AC,\; \;L\; estará sobre \;CK,\; estando \;K\; sobre uma paralela a \;BC\; tirada por um ponto \;H\; de \;AC\; sendo \;2KH=HC.\; \;L\; é único \;CK.BG \; e \;B'C'\; é a única paralela a \;BC \; tirada por \; L
  6. São semelhantes os triângulos \;[FBG]\; e \;[C'BL]\; e os lados opostos ao ângulo \;\hat{B}\; comum são homólogos e \;BC' = 2C'L,\; já que por construção \;FB=2FG.\; Do mesmo modo, se mostra que \;2LB'=B'C\;
O ponto \;F\; pode tomar as diversas posições sobre \;AB.\; Verá que a variação de \;F\; sobre \;AB\; não afeta a posição de \;L.\; No caso da nossa construção, quando \;F\; toma a posição de \;C',\; K\; toma a posição de \;B',\; \;G\; e \;K\; coincidem com \;L.\; Os pares de arcos iguais (centrados em \;F\; e \;M,\; e em \;H\; e \;N)   acompanham a deslocação de \;F\; e ilustram as relações estabelecidas.

22.6.14

Resolver problema de construção, usando análise e síntese (2)


Problema:     Traçar num dado triângulo um segmento paralelo à base de tal forma que, se a partir dos seus extremos se tirarem segmentos paralelos aos lados até à base, a sua soma seja igual ao primeiro segmento.
Charles Lutwidge Dodgson, Um conto enredado e outros problemas de almofada. RBA: 2008
São dados \;A, \;B, \;C\;. Resolver o problema consiste em determinar, por construção, pontos \;D\; sobre \;AB\; e \;E\; sobre \;AC\;, de tal forma que \;DE \parallel BC \wedge DE= DF+EG,\; sendo \;F, \;G\; pontos de \;BC\; e \;EG \parallel DB\; e \;DF \parallel EC. \;
Considerando que, para obter a solução por construção, temos de fazer a análise do problema a partir do problema como se ele estivesse resolvido. (ilustrada, na figura, para os valores \;1,\;2\;de \;n\; no cursor \;\fbox{n=1,..., 4}.\;
  1. No problema resolvido temos os pontos dados \;A, \;B, \;C\; e também os pontos \;D\; sobre \;AB\; e \;E\; sobre \;AC\;, de tal forma que \;DE \parallel BC \wedge DE= DF+EG,\; sendo \;F, \;G\; pontos de \;BC\; e \;EG \parallel DB\; e \;DF \parallel EC. \;
  2. \;[DBGE]\; e \;[DFCE]\; são paralelogramos, logo
    \; DE= EG+DF = DB+EC \;

  3. A construção (sintética, a seguir) está ilustrada para os valores \;3,\; 4\; de \;n\; no cursor \;\fbox{n=1,..., 4}.\;

    © geometrias, 22 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra



    Considerando a decomposição (análise) do problema antes feita, apresentamos, agora sinteticamente, os passos da determinação da reta \;DE\; .
  4. Começamos por traçar as bissetrizes dos ângulos \;A\hat{B}C\; e \;B\hat{C}A\; e designemos por \;H\; o ponto em que elas se encontram (aliás, este ponto é o incentro do triângulo \;[ABC]\;, comum às suas três bissetrizes e equidistante dos seus três lados).
    Por \;H\; tiramos a paralela a \;BC\; que interseta os lados \;AB\; e \;AC\; respetivamente em \;D\; e em \;E\;
  5. Como \;DE \parallel BC, \;\; D\hat{H}B =H\hat{B}F= D\hat{B}H\; e, em consequência, \;DB=DH. \;
    Do mesmo modo, \;E\hat{H}C= H\hat{C}G = E\hat{C}H \; e, em consequência, \;EC=EH\; e
    DE= DH+HE =DB+EC
    Finalmente, já que \;B, \;E\; e \;D, \;C\; são vértices de paralelogramos, então \;EG=DB, \;DF=EC \; e, em consequência, \;DE= DF+EG.\;\;\;\;
Completam a ilustração, vários elementos que relacionam este problema de construção com o da anterior entrada. Fica assim apresentada uma nova resolução em que \;H\; é olhado como o pé da bissetriz de \;\hat{A}\; no triângulo \;[ADE].\;

19.6.14

Resolver problemas de construção, usando análise e síntese (1)


Muitas vezes, um problema é construído a partir da sua solução, feito pela observação de resultados de operações sobre ela, ou transformações dela, de que se não deixa rasto. Por isso, muito frequentemente, um problema não é um verdadeiro problema (desafio) para quem apresenta o seu enunciado. A resolução de problemas faz parte da essência da aprendizagem, vital para o desenvolvimento do raciocínio reconstrutivo
Quando olhamos para um problema, o mais natural é não vermos a sua solução até porque ela pode estar escondida num detalhe de que só tomamos conhecimento quando decompomos o problema em partes (quando fazemos a análise da substância do dito) e isso significa que olhamos para o problema como se ele estivesse resolvido, procurando identificar tanto os elementos nele envolvidos como as relações entre eles. Dizemos comumente que a análise tem a ver com ser natural e o sintético (enunciado da lei ou do problema) tem a ver com ser artificial.
O raciocínio analítico é fundamental para resolver problemas de construção geométrica. A generalidade dos autores, que apresentam soluções para os problemas básicos que propõem, referem-se explicitamente aos métodos analíticos e sintéticos para cada problema.
Assim faz Charles Lutwidge Dodgson - romancista, contista, fabulista, poeta, desenhador, fotógrafo, matemático e reverendo anglicano britânico, que viveu de 1832 a 1898 e lecionou matemática (lógica) em Oxford, Christ College - mais conhecido pelo seu pseudónimo Lewis Carroll.
Há um livro, em português, editado em 2008 por RBA Coleccionables, S.A. que reúne, de C.L.D. "Um conto enredado" de 1880…… e "Problemas de Almofada criados durante as horas passadas acordado" de 1893…… . Deste livro, se transcreveu um problema na "dia-a-dia com a Matemática, Associação de Professores de Matemática, 2011/2012- Agenda do Professor" e que republicamos nesta página


Problema:     Num triângulo dado, traçar uma linha paralela à base de tal forma que os comprimentos dos segmentos dos lados intersetados entre esta e a base sejam, somados, iguais ao comprimento da base.
São dados \;A, \;B, \;C\;. Resolver o problema consiste em determinar, por construção, pontos \;D\; sobre \;AB\; e \;E\; sobre \;AC\;, de tal forma que \;DE \parallel BC \wedge BC= BD+CE\;


Considerando que, para obter a solução por construção, temos de fazer a análise do problema a partir do problema como se ele estivesse resolvido.

  1. No problema resolvido temos os pontos dados \;A, \;B, \;C\; e também os pontos \;D\; sobre \;AB\; e \;E\; sobre \;AC\;, de tal forma que \;DE \parallel BC \wedge BC= BD+CE\;
  2. Nas condições do problema resolvido, como \;BD=CE\;,
    • a circunferência (\;B, \;BD)\; de centro em \;B\; e raio \;BD\; interseta \;AB\; em \;D\; e \;BC\; num outro ponto que designamos por \;F;
    • Do mesmo modo, a circunferência (\;C, \;CE)\; de centro em \;C\; e raio \;CE\; interseta \;AC\; em \;E\; e \;BC\; no ponto \;F,\;
    • já que \;BD+CE= BC= BF+FC.\;
  3. Por ser \;BF=BD\; no triângulo \;BFD\;, \;B\hat{D}F=B\hat{F}D\; = \; (pela Prop. 29 (Livro I, Elementos de Euclides), como \;DE \parallel BC \;) \;= F\hat{D}E.\; De forma análoga, também C\hat{E}F = F\hat{E}D\; (ângulos alternos internos)
    Por ser \; B\hat{F}D\; = F\hat{D}E, \;FD\; bisseta o ângulo \;B\hat{D}E.\; E, de modo análogo, \;FE\; bisseta o ângulo \; C\hat{E}D.\;
    Se o ponto \;F\;, interseção de duas bissetrizes externas do triângulo \;ADE\;, é o centro de uma das circunferências ex-inscritas desse triângulo e está sobre a bissetriz do ângulo D\hat{A}E
  4. \;F\; é um ponto equidistante dos três lados \;DE, \;AD, \;AE\; que está sobre a base \;BC\; do triângulo \;ABC\;
    e, assim ficamos a saber que, para resolver o nosso problema, bastaria determinar o ponto \;F\; como pé em \;BC\; da bissetriz do ângulo Â.


© geometrias, 19 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra


Pode seguir os passos da construção (sintética) fazendo variar os valores de \;n\; no cursor \;\fbox{n=1, 2, ..., 6}.\;

Considerando a decomposição (análise) do problema antes feita, apresentamos, agora sinteticamente, os passos da construção.
  1. Começamos por bissetar o ângulo \;C\hat{A}B\; com a reta \;AF\;, sendo \;F\; o pé da bissetriz em \;BC.\;
  2. Tiramos por \;F\; as perpendiculares a \;AC\; e a \;AB\;, respetivamente \;FB'\; e \;FC'\;
    Como \;F\; é um ponto da bissetriz de \; C\hat{A}B,\; \;FB'=FC'.\;
  3. A seguir, traçamos a circunferência de centro em \;F\; que passa por \;B'\; e \;C'\;. E tiramos por \;F\; um outro raio \;FA'\; perpendicular a \;BC\;. A perpendicular a \;FA'\; que interseta \;AB\; em \;D\; e \;AC\, em \;E\; é paralela a \;BC.\;
  4. Os ângulos \;A',\; B',\; C'\; são retos e \;FA'=FB'=FC':\; \;FD\; é hipotenusa comum de dois triângulos retângulos iguais ( \;[C'FD] = [FA'D]\; ) e, por isso, \;FD\; é bissetriz de \;B\hat{D}E.\; De modo análogo, podemos ver que \;FE\; é bissetriz de \;C\hat{E}D.\;
  5. Como \;B\hat{F}D = F\hat{D}A'\; (por serem ângulos alternos internos) e \;F\hat{D}A'= F\hat{D}B\; (por \;FD\; ser bissetriz de \;BDE\;), então \;B\hat{F}D = F\hat{D}B\; e, em consequência, \;BD = BF.\;
    De modo análogo, se prova que \;CE = CF.\;
  6. Em conclusão, \;BC=BF+FC= BD+CE,\; como queríamos.

12.6.14

Resolver problema de construção, usando composta de rotações (e meia volta)


Problema:    
O tesouro enterrado
Um velho pergaminho, que descrevia o local onde piratas enterraram um tesouro numa ilha deserta, dava as seguintes instruções:
Na ilha só há duas árvores, \;A\; e \;B\;, e os restos de uma forca.
Comece na forca e conte os passos necessários para ir, em linha recta, até à árvore \;A\;. Quando chegar à árvore, rode \;90^o \; para a esquerda e avance o mesmo número de passos. No ponto em que parou, coloque um marco no chão.
Volte para a forca e vá em linha recta, contando os seus passos, até à árvore \;B. Quando chegar à árvore, rode \;90^o\; para a direita e avance o mesmo número de passos, colocando outro marco no chão, no ponto em que acabar.
Cave no ponto que fica a meio caminho entre os dois marcos e encontrará o tesouro.
Um jovem aventureiro que encontrou o pergaminho com estas instruções, fretou um navio e viajou para a ilha. Não teve dificuldade em encontrar as duas árvores mas, para seu grande desgosto, a forca tinha desaparecido e o tempo tinha apagado todos os vestígios que pudessem indicar o lugar onde ficava.
Fractal music, hipercards and more, de Martin Gardner

Proposto na brochura Trigonometria e Números Complexos: matemática - 12º ano de escolaridade. Maria Cristina Loureiro... DES. Lisboa:2000 (pp. 65/66), com uma resolução usando números complexos.
Mariana Sacchetti lembrou-se deste problema que tem utilizado na lecionação dos complexos, como um exemplo de problema que poderia ser resolvido usando transformações geométricas.
É o que vamos fazer, considerando que resolver o problema é encontrar o tesouro sem termos a exata localização de vestígios da forca.

A construção a seguir ilustra a resolução do problema, no caso mostrar que, qualquer que seja a posição da forca, seguir as instruções do pergaminho, conduz a uma única posição do tesouro. Com recurso exclusivo a propriedades das transformações geométricas.
  1. São dados os pontos \;A\; e \;B\; de localização das árvores
  2. Conhecida a localização da forca, designemo-la por \,F\;, seguir as instruções seria percorrer \;FA\;, rodar sobre os calcanhares \;90^o\; para a esquerda e fazer um percurso de comprimento gual a \;FA\;, local onde se coloca um marco, designemo-lo por \;M\;: \begin{matrix} &{\cal{R}} (A, \;-90^o)&&\\ F&\longmapsto&M&\\ &&&\;\;\; \mbox{e, do mesmo modo, para o outro marco,} \;N \\ &{\cal{R}} (B, \;+90^o)&&\\ F&\longmapsto&N&\\ \end{matrix}

    © geometrias, 10 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra


    Clique no botão \;\fbox{1}\; para seguir as instruções do pergaminho para uma localização da forca.

  3. Não conhecendo a posição exata de \;F\; tomamos um ponto qualquer, \;F_1, do chão da ilha para localização da forca. Designando por \;M_1\; e \;N_1\; as posições dos marcos a que chegamos, seguindo as instruções do pergaminho. Se \;F_1\; fosse a localização exata da forca, no ponto médio \;O\; de \;M_1N_1\; valeria a pena cavar porque estaríamos a desenterrar o tesouro.
    É altura de fazer variar a posição de \;F_1\; para observar o comportamento de \;O\;
  4. Pela rotação de \;-90^0\; em torno de \;A\;, \;M_1\; é a imagem de \;F_1\; e, em consequência, \;F_1 é imagem de \;M_1\; pela rotação de \;+90^0\; em torno de \;A\;. Podemos escrever: \begin{matrix} &{\cal{R}}(A, \;+90^o)&&{\cal{R}}(B, \;+90^o)&\\ M_1&\mapsto & F_1 & \mapsto & N_1 \\ \end{matrix} Ora, a composta de duas rotações \;{\cal{R}}(B, \;+90^o)\circ {\cal{R}}(A, \;+90^o)\; é uma rotação:
    • o ângulo de rotação da composta é a soma dos ângulos das componentes, no caso \;+90^o + 90^o =180^o
    • o centro da rotação composta de rotações é um ponto equidistante de qualquer par de elementos relacionados pela composta, no caso \;O\; : \;OM_1 = ON_1.
      De um modo geral, o centro da rotação composta determina-se como ponto de encontro das mediatrizes de dois pares de pontos por ela relacionados.
    Assim, se vê que as posições dos marcos \;M\; e \;N\; obtidas, para qualquer posição da forca \;F\; de acordo com as instruções do pergaminho, estão relacionadas por uma transformação de meia volta. E o centro de uma rotação de meia volta é invariante, não dependendo da posição da forca.
O botão \;\fbox{2}\; parte de outra localização da forca. Claro que bastará fazer variar uma posição de \;F\;.

8.6.14

Resolver problema de construção usando uma dilação rotativa


Problema:     Imagine dois mapas de Portugal continental em escalas diferentes mas de tal modo que um deles fique inteiramente contido no outro.Prove que existe um e um só ponto do território continental português que fica, na representação nos dois mapas, exactamente sobreposto. Para facilitar uma ilustração do problemas, pode supor que Portugal continental é exactamente um rectângulo.
assim enunciado e proposto por Eduardo Veloso em "Simetria e Transformações Geométricas",GTG APM.Lisboa: 2012


A construção a seguir ilustra essa resolução do problema recorrendo a transformações geométricas
  1. Estão dados na figura dois retângulos de vértices \;[ABCD]\; e \;[DFGH]\; semelhantes, no sentido de que, para quaisquer dois pontos \;P, \;Q\; no retângulo \;[ABCD]\;, há dois pontos \;P', \;Q'\; no retângulo \;[EFGH]\; tais que a razão \;\displaystyle \frac{PQ}{P'Q'}\; é constante (invariável).
    No caso, a figura obviamente sugere que \;\displaystyle \frac{AB}{EF} = \frac{BC}{FG} = \frac{CD}{GH} =\frac{AB}{GH}= ... \; se forem semelhantes os dois retângulos.
    Consideremos a semelhança \;\cal{S}\; para a qual \; C \mapsto G, \; D \mapsto H, ...\;
    Se \;AB \parallel EF\; o ponto comum aos dois retânguos sobrepostos seria o centro de uma homotetia, exatamente a interseção \;AE.BF =CG.DH\; e o problema estava resolvido. Não é o caso da nossa figura.


  2. © geometrias, 8 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra


    Clique no botão "Resolução" que seguir a nossa resolução.

  3. Uma transformação de semelhança é sempre a composta de uma homotetia com uma isometria. A figura dos dois retângulos sugere-nos uma rotação que transforme, por exemplo \;[EFGH]\;, num retângulo \;[E'F'G'H']\; para o qual \; E'F' \parallel H'G' \parallel CD \parallel AB\; seguida de uma homotetia que transforme \;[E'F'G'H']\; em \;[ABCD]\;.
    Como sabemos, há muitas semelhanças possíveis compostas de rotações (de vários centros e ângulos de rotação) com homotetias de razão \:\displaystyle \frac{AB}{EF} = \frac{BC}{FG}=\frac{CD}{GH}= \frac{DA}{HE}\;(com centros diferentes).
    Qualquer rotação deixa invariante o seu o centro e qualquer homotetia deixa invariante o seu centro. Para que haja um ponto comum aos dois mapas sobrepostos é preciso que a semelhança seja composta de uma rotação com uma homotetia de centro no centro de rotação. Se o centro da rotação não for o centro da homotetia, esta não deixa invariante o centro da rotação.
  4. \begin{matrix} &{\cal{R}}(O, \alpha)&&{\cal{H}}(O, k)&\\ [EFGH]&\longrightarrow&[E'F'G'H']& \longrightarrow&[ABCD]\\ E&\mapsto & E' & \mapsto & A \\ F&\mapsto & F' & \mapsto & B \\ G&\mapsto & G' & \mapsto & C \\ H&\mapsto & H' & \mapsto & D \\ \end{matrix} Para que a centro, designado por \;O, da rotação seja o centro da homotetia é preciso que \;\alpha=EÔE'=EÔA=FÔF'=FÔB=GÔG'=GÔC=HÔH'=HÔD\;, já que, para a homotetia de centro \;O\; que faz corresponder \;H'\; a \;D\; e \;G'\; a \;C\;, \; O, \;H',\;D\;, são colineares como são colineares \;O, \;G', \;C, ou seja, \;HÔD = GÔC\;....
  5. Como se determina esse ponto \;O\; centro da dilação rotativa (composta de rotação e homotetia de centro comum)?
    • Toma-se, por exemplo, o ponto \;K\; da interseção \;CD.GH\; e o ângulo \; \alpha = (\dot{K}D, \dot{K}H)= (\dot{C}D, \dot{G}H) = (\dot{B}C, \dot{F}G), = ...
    • Da circunferência que passa por \;H, \;D, \;K; o arco \;\widehat{HD} assinalado (a tracejado grosso) é o arco da circunferência \;(HDK); em que se inscreve \;\alpha\; e, por isso, qualquer ponto \;P\; da circunferência que não seja \;H, \;D, nem ponto desse arco é vértice de um ângulo H\hat{P}D de amplitude \;\alpha\;
      Do mesmo modo, o arco \;\widehat{GC} da circunferência que passa por \;G, \;C, \;K\; em que se inscrevem ângulos de amplitude \;\alpha\; com vértice \;Q\; nessa circunferência \;(GCK)\; e fora do arco.
  6. No caso da nossa figura, as circunferências \;(GCK)\; e \;(HDK)\; têm dois pontos em comum que são vértices de ângulos de amplitude \;\alpha\;. Um deles é \;K\; e o outro é \;\mathbb{O}\;. A vermelho na figura, este é o ponto procurado: \begin{matrix} &{\cal{R}}(O, \alpha)&&\\ G&\longmapsto & G'& G'ÔG= CÔG =\alpha\\ H&\longmapsto & H' & H'ÔH= DÔH =\alpha \wedge G'H' \parallel CD \wedge GH=G'H'\\ &&&\\ &{\cal{H}}(O, k)&&\\ G'&\longmapsto & C& G' \in OC\\ H'&\longmapsto & D & H' \in OD \wedge G'H'= GH = CD: \frac{CD}{G'H'}=\frac{CD}{GH} =k\\ \end{matrix}

6.6.14

Resolver problemas de construção, usando composta de translações (24)


Problema:     Em que pontos devem ser construídas as pontes perpendiculares aos rios de margens \;a, \;b\; e \;c,\;d\; paralelas que separam duas cidades \;A, \;B\; de tal modo que se possa construir uma estrada entre elas o mais curta possível?

A construção a seguir ilustra essa resolução do problema recorrendo a transformações geométricas, no caso composta de translações. Utilizamos o problema resolvido anteriormente e ao apresentar esta resolução fica sugerido o processo para problema com qualquer número de rios
  1. Estão dados na figura os dois pontos \;A,\;B\; - cidades, e as pares de retas paralelas \;(a, \;b)\; e \;((c, \;d)\; - margens dos rios que separam as duas cidades.


  2. © geometrias, 6 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra


    Clique no botão "Resolução" que lhe dá todos os elementos a seguir dados pela ordem seguida.

  3. Temos de contar com as travessias dos dois rios: na direção perpendicular às margens \;(a, \;b)\; e comprimento igual à distância entre elas - segundo \;\overrightarrow{u}, e na direção perpendicular às margens \;(c, \;d)\; e comprimento igual à distância entre elas - segundo \;\overrightarrow{v}\;
  4. À semelhança do que fizemos na entrada anterior, aplicamos a \;A\; a translação associada a \;\overrightarrow{u}\; (travessia do primeiro rio), obtendo \;L'= A+ \;\overrightarrow{u}\; que, no caso de um só obstáculo ligaríamos a \;B\;.
  5. No caso dos dois rios, acrescentamos a seguir à primeira travessia, a travessia do segundo rio, obtendo \;N'=L'+ \;\overrightarrow{v} = A'+\;\overrightarrow{u} + \overrightarrow{v}\;
    N'\; é obtido pela composta da translação associada a \;\overrightarrow{u}\; seguida da translação associada a \;\overrightarrow{v}\;
    A estrada mais curta entre \;A\; e \;B\; terá assim o comprimento \;AL'+L'N' + N'B
  6. O desenho da estrada será construído:
    • desenhe-se a reta \;N'B\; que interseta \;d\; em \;N\;
    • a perpendicular a \;d\; tirada por \;N\; interseta \;c\; em \;M\; (ou tome-se \;M= N - \overrightarrow{v}\;)
    • Tira-se por \;M\; a reta paralela a \;N'B\; (ou toma-se a reta \;L'M\;) que interseta a reta \;b\; em \;L\;
      \;[N'NML']\; é um paralelogramo: \;L'N' \parallel MN, \;L'M \parallel N'N, \;L'N' = MN, \;L'M = N'N
    • Toma-se agora \;K= L-\overrightarrow{u}\; que está sobre \;a\;.
      Temos outro paralelogramo \;[L'LKA]\;: \;AL' \parallel KL, \; L'L \parallel AK, \;AL' = KL, \; L'L = AK
    • AK \parallel L'M \parallel N'B, \;AL' \parallel KL \; e \;L'N'\parallel MN
      Como \;AK=L'L e \;L'M=L'L+LM= N'N\; então \;AK+LM = M'N\; e \;KL+MN=AL'+L'N' =u+v\; e o comprimento da estrada vermelha \;AK + KL + LM + MN + NB é igual ao comprimento (KL+MN) + (AK+LM)+NB = AL'+L'N'+N'N+NB= AL'+L'N'+N'B do caminho mais curto.

4.6.14

Resolver problema de construção, usando transformações geométricas (23)


Problema:     Em que pontos deve ser construída a ponte perpendicular ao rio de margens \;a, \;b\; paralelas que separa duas cidades \;A, \;B\; de tal modo que se possa construir uma estrada entre elas o mais curta possível?

A construção a seguir ilustra essa resolução do problema recorrendo a transformações geométricas, no caso translações.
  1. Estão dados na figura os dois pontos \;A,\;B\; - cidades, e as retas \;a, \;b\; - margens do rio que separa


  2. © geometrias, 4 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra



  3. Sem contar com o rio, o caminho mais curto entre as duas cidades, seria \;AB\;. Para determinar as posições dos pontos extremos da ponte é preciso considerar a mais o comprimento da travessia do rio.
  4. Tome-se um vetor \;\overrightarrow{u}\; e aplique-se a \;A\; a translação associada a esse vetor : \;\overrightarrow{AA'} = \overrightarrow{u}\; ou \;A'= A + \overrightarrow{u}. Incluída a travessia, a estrada mais curta deve medir \;AA' + A'B\;
  5. A reta \;AA'\; corta \;b\; em \;H\; e esse é um extremo da ponte. O outro será \;H'= H - \overrightarrow{u}\; sobre \;a\; e \;AH'HA'\; é um paralelogramo.
    \;AA'= HH'\; e \;AH' = AH\;. Logo \;AA'+ A'B = AH'+H'H+HB
E se houver dois rios a separar \;A\; de \;B\;? Fica para a próxima entrada.

1.6.14

Resolver problema de construção, usando meias voltas e translações


Problema:     São dados cinco pontos \;A, \;B, \;C, \;D, \;E. Estes pontos são os pontos médios dos lados de um pentágono \;PQRST\; desconhecido. Reconstruir o pentágono.
Este problema está referido no livro Simetrias e Transformações Geométricas de Eduardo Veloso (p.15) e já aqui foi citado, bem como o artigo Cinco pontos, um problema e cinco resoluções, publicado no número 79 da revista Educação e Matemática de Setembro/Outubro de 2004. Recomendamos a leitura do artigo que conta uma história e apresenta 5 resoluções. Na circunstância, chamamos a atenção para a resolução usando transformações de Maria Dedò.
O enunciado é o que José Paulo Viana propõe numa mensagem a Eduardo Veloso.
A construção a seguir ilustra essa resolução do problema recorrendo a transformações geométricas. Clicando nos sucessivos botões 2, 3, ... acompanha os passos da resolução/demonstração(?).
  1. Estão dados os pontos \;A, \;B, \;C, \;D, \;E médios dos lados do pentágono de vértices \;P, \;Q, \;R,\;S,\;T\; cujas posições desconhecemos e queremos construir.
  2. Consideremos \;A\; ponto médio de \;PQ\;, \;B\; ponto médio de \;QR\;, \;C\; ponto médio de \;RS\;, \;D\; ponto médio de \;ST\;, \;E\; ponto médio de \;TP\;.
    Sejam quais forem as posições de \;P\; e de \;Q\;, sabemos que estão relacionados por uma transformação de meia volta centrada em \;A\;; \;Q\; e \;R\; estão relacionados por uma meia volta centrada em \;B\;
    Não sabendo a posição de \;P\;, tomemos \;P_1\; para uma "falsa" posição de \;Partida. E \begin{matrix} &{\cal{R}}(A, 180^o)&&{\cal{R}}(B, 180^o)&&{\cal{R}}(C, 180^o)&&{\cal{R}}(D, 180^o)&&{\cal{R}}(E, 180^o)&\\ P_1& \longmapsto& P_2 &\longmapsto&P_3&\longmapsto& P_4 &\longmapsto&P_5 & \longmapsto & P'_1\\ \end{matrix}


  3. © geometrias, 1 de Junho de 2014, Criado com GeoGebra



  4. Fácil é verificar que a composta de duas meias voltas é uma translação: \forall P_1, \;\;\left({\cal{R}}(B, 180^o) \circ {\cal{R}}(A, 180^o)\right) (P_1)={\cal{R}}(B, 180^o)\left( {\cal{R}}(A, 180^o ) (P_1)\right)={\cal{R}}(B, 180^o) (P_2) = P_3 {\cal{R}}(B, 180^o) \circ {\cal{R}}(A, 180^o) = {\cal{T}}_{2\overrightarrow{AB}}: \;\;\;\; P_1 \longmapsto P_3 Do mesmo modo, {\cal{R}}(C, 180^o) \circ {\cal{R}}(D, 180^o) = {\cal{T}}_{2\overrightarrow{CD}}: \;\;\;\; P_3 \longmapsto P_5 A composta das duas translações é uma translação. Assim: {\cal{T}}_{2\overrightarrow{CD}} \circ {\cal{T}}_{2\overrightarrow{AB}} = {\cal{T}}_{2(\overrightarrow{AB}+\overrightarrow{CD})} : \;\;\; P_1 \longmapsto P_5 que é o mesmo que dizer que as quatro primeiras meias voltas são equivalentes a uma translação.
  5. Se a composta de duas meias voltas é uma translação, a composta de uma translação com uma meia volta é uma meia volta: \begin{matrix} &{\cal{T}}_{2(\overrightarrow{AB}+\overrightarrow{CD})}&&{\cal{R}}(E, 180^o)&\\ P_1 & \longmapsto & P_5 & \longmapsto & P'_1 \end{matrix} Se \;P_1\; fosse a posição verdadeira de \;P\;, então seria \;P_2 \equiv Q, \; \;P_3 \equiv R, \;\;P_4 \equiv S, \;\;P_5 \equiv T, \; \;\;\;P'_1 \equiv P.
    Para a meia volta que a \;P_1 \; faz corresponder \;P'_1\; tem um ponto invariante, o centro da meia volta que é o ponto médio de todos os segmentos P_1P'_1 em que \;P_1\; é um ponto qualquer de \;P'_1\; é o seu correspondente por cinco meias voltas sucessivas: de centros \;A, \;B, \;C, \;D, \;E.
    É esse ponto médio de todos os \;P_1P'_1\; que tomamos para \;P\;
    Variando as posições de \;P_1\;, podemos constatar que a posição de \;P\; fica invariante.
  6. Finalmente, pode constatar que a sucessão de meias voltas de centros \;A, \;B, \;C, \;D, \;E permite determinar os vértices \;Q, \;R, \;S, \;T\; sendo \begin{matrix} &{\cal{R}}(A, 180^o)&&{\cal{R}}(B, 180^o)&&{\cal{R}}(C, 180^o)&&{\cal{R}}(D, 180^o)&&{\cal{R}}(E, 180^o)&\\ P& \longmapsto & Q & \longmapsto &R &\longmapsto & S& \longmapsto &T&\longmapsto& P\\ \end{matrix}
Pode variar as posições de \;A, \;B,\;C,\;D, \;E\; e de \;P_1\;.