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26.11.14

Invariante nas triangulações de polígonos inscritíveis (2)


Consideremos um polígono convexo \;[A_1 A_2 \;\ldots A_{k} \ldots A_n]\; inscrito numa circunferência de centro \;O \; e raio \;R\; dados. Tomemos uma triangulação, por exemplo \; [A_1A_2A_3], \; [A_1A_3A_4],\; \dots , \; [A_1A_{k-1}A_k], \; \dots \; [A_1A_{n-1}{A_n}] de \;n-2\; triângulos e designemos por \;i_k\; o inraio do triângulo \;[A_1A_kA_{k+1}]\;. Há várias triangulações para cada polígono, mas
a soma dos raios das circunferências inscritas nos triângulos é a mesma para qualquer das triangulações possíveis. Provemos.


No artigo publicado a 20.11.14 sob o título soma invariante nas triangulações de quadrilátero convexo inscrito mostrámos que, para um quadrilátero convexo inscrito numa cirucnferência de centro \;O\; e raio \;R\; dados,
  • a soma dos inraios de uma das triangulações é igual à soma dos inraios da outra
  • e, para isso, se demonstrou o teorema de Carnot:
    • para um triângulo acutângulo \;ABC\; inscrito numa circunferência de centro \;O\; e raio \;R\; se chamarmos \;i\; ao inraio de \;ABC\; e \; m, \; n, \;p\; às distâncias de \;O\; aos lados \;a=BC, \;b=AC, \;c=AB\; respetivamente, então R+i =m+n+p
    • para um triângulo \;ABC\;, obtusângulo em \;C, \; verifica-se que R+i =m+n-p
  • óbvio é que se \;ABC\; for um triângulo retângulo em \;C, \; verifica-se que R+i =m+n já que \;AB=c\; é um diâmetro de \;(O)\;


Na figura abaixo, apresenta-se um hexágono convexo \;[A_1A_2A_3A_4A_5A_6]\; inscrito numa circunferência \;(O).\; A imagem inicial apresenta um hexágono com \;O\; como ponto do seu interior e no interior de \;[A_1A_4A_5]\; triângulo da triangulação feita tomando as diagonais tiradas por \;A_1\;, no exemplo. Para além das diagonais, na figura também estão visíveis as distâncias \;OM_k =m_k\; (aos lados do polígono A_kA_{k+1} \;) e \;ON_k = n_k\; (às diagonais \;A_1A_3,\; A_1A_4, \;A_1A_5\; que são lados dos triângulos da triangulação tomada.

© geometrias, 24 de Novembro de 2014, Criado com GeoGebra




  1. Aplicando o Teorema de Carnot (referido acima) aos triângulos em que decompusémos o nosso polígono, temos
    R+i_1 = m_1+m_2-n_1 R+i_2 = n_1+m_3-n_2 R+i_3 = n_2+n_3 + m_4 R+i_4 = m_5 +m_6 -n_3 e, por isso, 4R + (i_1 + i_2 +i_3 +i_4 )= m_1+m_2+m_3+m_4 +m_5+m_6 ou i_1 + i_2 +i_3 +i_4 =m_1+m_2+m_3+m_4 +m_5+m_6 -4R \;\;\;\;\; \square A soma dos inraios é igual à soma das distâncias do circuncentro aos lados do polígono diminuida do número de circunraios igual ao número de triângulos da triangulação (exatamente igual a \;n-2, \; sendo \;n\; o número de vértices ou número de lados do polígonos unicamente dependente do polígono e da sua circunscrita e independente da triangulação tomada.

    Este raciocínio aplica-se a qualquer polígono convexo inscritos em circunferência com centro no interior do polígono e, forçosamente, em algum triângulo cujos lados são lados ou diagonais do polígono.
  2. O mesmo raciocínio pode ser utilizado para o caso de \;O\; ser um ponto exterior ao polígono inscrito em \;(O,\; R).\; Nestas condições, o ponto \;O\; é exterior a todos os triângulos de qualquer triangulação que se tome.
    Verificará que, por aplicação do Teorema de Carnot, o resultado se mantém o mesmo.
  3. O resultado pode ser demonstrado por indução finita, usando o resultado da entrada anterior. Para um triângulo, o inraio varia conforme tenha um ângulo obtuso, reto ou todos agudos. Para um quadrilátero convexo inscrito mantém-se invariante a soma dos inraios para cada uma das triângulações. Bastará provar que, para qualquer \;p\geq 4\;,
    se a soma dos inraios de um polígono convexo inscrito de \;p\; lados é invariante para todas as suas triangulações então também tal se verifica para todos os polígonos convexos inscritos de \;p+1\; lados
    Um polígono convexo inscrito de \;p+1\; lados, \;\left\{A_k\right\}_{k=1, ...,p+1}\;, pode decompor-se sempre em dois polígonos inscritos na mesma circunferência, a saber: um polígono de \;p\; lados — \;\left\{A_k\right\}_{k=1, ...,p}\; —, e um triângulo \;A_1A_pA_{p+1}\;. Pela hipótese de indução, para \;p\geq 4\;. i_1 + i_2+ i_3 + \dots + i_{p_3}+ i_{p-2} =m_1+ m_2+ m_3 + \dots +m_{p-2} + n_{(p+1)/2} -(p-3)R \;O\; pode ser interior de \;\left\{A_k\right\}_{k=1, ...,p}\; (e exterior de \;A_1A_pA_{p+1}\;) ou .... ou exterior a ambos....
    Consideremos \;O\; exterior a \;A_1A_pA_{p+1}\; e \angle A_1\hat{A_p}A_{p+1} obtuso. A distância de \;O\; ao lado \;A_1A_p\;, oposto ao obtuso neste triângulo, é \;n_{(p+1)/2} \;, sendo \;m_p\; a distância de \;O\; a A_pA_{p+1} e \;m_{p+1}\; a A_{p+1}A_1.
    Para este último triângulo \;A_1A_pA_{p+1}\; inscrito em \;(O, \;R)\; de que \;O\; está no exterior (\angle A_1\hat{A_p}A_{p+1} é obtuso), o seu inraio \;i_{p-1}\; é igual a \;m_p + m_{p+1} - n_{(p+1)/2} -R \;
    Podemos então escrever para \;p\geq 4, i_1 + i_2+ i_3 + \dots + i_{p-3}+ i_{p-2} + \underbrace{i_{p-1}}=\\\ =m_1+ m_2+ m_3 + \dots +m_{p-2} + n_{(p+1)/2} -(p-2)R + \underbrace{m_p + m_{p+1} - n_{(p+1)/2} -R} ou i_1 + i_2+ i_3 + \dots + i_{p-3}+ i_{p-2} + i_{p-1}=m_1+ m_2+ m_3 + \dots +m_{p+1-2} + m_{p+1-1} + m_{p+1} -(p+1-2)R como queríamos provar.

20.11.14

Soma invariante na triangulação de polígonos inscritíveis (I)


Consideremos um quadrilátero convexo \;[ABCD]\; inscrito numa circunferência dada. Cada uma das suas diagonais divide o quadrilátero em dois triângulos diferentes tendo a respetiva diagonal por lado comum. Dizemos por isso que um quadrilátero admite duas triangulações diferentes: divisão em \;[ABC]\; e \;[ACD]\; pela diagonal \;AC;\; e em \;[ABD]\; e \;[BCD]\; pela diagonal \;BD\;.
Um dos "sangakus" mais famosos relaciona as duas triangulações de um quadrilátero convexo inscrito numa circunferência. Assim:

A soma dos raios das circunferências inscritas nos triângulos de cada triangulação de um quadrilátero inscrito é igual para as duas triangulações

© geometrias, 16 de Novembro de 2014, Criado com GeoGebra





Lembramos que
  • Os ângulos opostos de um quadrilátero inscrito numa circunferência são suplementares. Consideremos um caso semelhante ao da figura acima em que são agudos os ângulos dos vértices \;A\; e \;B\; e, em consequência, os respetivos suplementares \;C\; e \;D\; são obtusos.
  • O produto das diagonais de um quadrilátero inscrito numa circunferência é igual à soma dos produtos de lados opostos: \; AC \times BD = AB \times CD + BC \times CD \; - teorema de Ptolomeu - aplicado ao quadrilátero da figura acima.
  1. Na figura dinâmica que se segue, mostra-se o triângulo acutângulo \;ABC \;, o seu incírculo \;(I, i)\; e as distâncias do circuncentro \;O\; do triângulo aos seus lados: \;OM = m\; - altura do triângulo \;OBC,\;tirada de \;O\; para \;BC =a; \; \; ON =n\; - altura do triângulo \;OCA\; tirada de \;O\; para \;CA =b;\; e \;OP\; - altura de \; OAB tirada de \;O\; para \;AB =c. \; Lembra-se que como \;OM \perp BC\;, sendo \;BC\; corda da circunferência \; (O), \; é \; BM=MC
    \; \Delta[OBC] + \Delta[OCA] + \Delta[OAB] = \Delta [ABC] que que multiplicada por 2, dá \;m \times a + n \times b + p \times c = (a+b+c) \times i


  2. © geometrias, 19 de Novembro de 2014, Criado com GeoGebra


    Use os botões \square \; ACIJ\; e \square \; BDKL\; para mostrar ou esconder cada uma das partes da construção para acompanhar o texto da prova .

  3. Cada um dos quadriláteros \;[OMCN], \;[ONAP], \; [OPBM] \; é inscritível, já que cada um deles tem dois ângulos opostos retos (suplementares portanto) e, consequentemente, os outros dois opostos também são suplementares. Por isso, chamando \;R=OA=OB=OC=OD\; ao circunraio, aos lados \;a=BC, \;b=AC, \;c=AB,\; e ás alturas respetivas dos triângulos \;OBC, \; OCA, \;OAB\; respetivamente m=OM ,\; n=ON , \; p=OP,\; e, por ser NP =\frac{a}{2}, \; MN =\frac{b}{2}, \; MP=\frac{c}{2}, \; podemos escrever (com recurso ao teorema de Ptolomeu, aplicado a cada um desses quadriláteros em que \;[ABC]\; se decompõe, \;[OMCN]: \; R\times \frac{c}{2} =m \times \frac{b}{2} + n\times \frac{a}{2} multiplicando por 2, equivalente a R\times c= m \times b + n \times a e, do mesmo modo para \;[ONAP]\; R\times a =n \times c + p \times b e para \;[OPBM] :\; \; R\times b =p \times a + m \times c E, somando \; (a+b+c) \times i= m \times a + n \times b + p \times c com as últimas três, obtemos R\times (a+b+c) +(a+b+c)\times i = a(m+n+p) +b(m+n+p) +c(m+n+p) (a+b+c)(R+i) = (a+b+c)(m+n+p) ou seja
    R+i = m+n+p= OM + ON + OP\;\;\;\; \square - Teorema de Carnot para triângulos acutângulos


    1. Para o triângulo \;CDA\; em que \;D\; é vértice de um ângulo obtuso e o circuncentro está no seu exterior, podemos fazer um raciocínio análogo, levando em conta que a soma das áreas dos triângulos \;ODC\; e \;ODA\; excedem a área de \;CDA\; numa área igual à do triângulo \;OCA.\;
      Assim no caso de um triângulo \;CDA\; inscrito e sendo \;D\; obtuso \Delta [CDA] = \Delta [OCD] + \Delta [ODA] - \Delta [OCA] de onde podemos retirar (AC+CD+DA) \times j = CD \times OQ + AD\times OR + AC \times (-ON)
    2. Por outro lado, o teorema de Ptolomeu aplicado aos três quadriláteros inscritíveis \;[OQDS], \;[OSAN], \; [ONCQ], \; dá-nos R \times (AC + CD + DA) =O\times DA + DC \times OS + OS \times AC + AD \times ON + ON\times CD + OQ \times CA e somando esta última, membro a membro, com \; (AC+CD+DA) \times j = CD \times OQ + DA\times OS +AC \times (-ON ) , R \times (AC+CD+ DA) + (AC+CD+DA) \times j= \\= OQ \times ( AC+CD+DA) + OS \times (AC+DC+DA) - ON \times (AC+CD+DA) =\\= (OQ+OS-ON) \times ( AC+CD+DA) R+j =q+s-n= OQ+OS-ON ;\;\;\; \square - Teorema de Carnot para triângulos obtusângulos


    Finalmente, podemos escrever 2R+i+j=m+p+q+s = OM+OP+OQ+OS \;\mbox{ou} \; i+j= OM+OP+OQ+OS - 2R
  4. E repetindo o raciocínio para a outra triangulação de \;ABCD\; em que este quadrilátero é dividido pela diagonal \;BD\; nos triângulos \;ABD\; (de incentro \;K\; e inraio \;k\;) e \;BCD\; (de incírculo \;(L, \; l)\;), podemos escrever que R+k= OP+OT+OS=p+t+s R+l=OM+OQ-OT = m+q-t e finalmente 2R+k+l= OM+OP+OQ+OS \;\mbox{ou} \; k+l= OM+OP+OQ+OS - 2R
  5. i+j=k+l \;\;\;\;\; \;\;\;\;\; \square como queríamos provar.





(sugestões de António Aurélio Fernandes)