Processing math: 100%

28.10.13

Construção de cadeias de Steiner (em circunferências concêntricas)


Dadas duas circunferências concêntricas (O, OP) e (O, OQ) com OP > OQ, determinar em que condições uma sequência de circunferências que são tangentes interiormente à primeira daquelas e exeriormente à segunda são também tangentes cada uma das que a seguem ou precedem.

© geometrias, 27 outubro 2013, Criado com GeoGebra

Clicando nos botões de navegação ao fundo, pode seguir as etapas da construção Vejamos as condições da figura:

  1. Chamemos R a OP, r a OQ e s a AQ. Para que a circunferência (A) seja a tangente a (O, R) e a (O, r) é preciso que R-r = 2s. Para que (B) seja tangente a (A), a (O, R) e (O, r) será preciso que AB=2s ou que s=BM em que M é o ponto médio de AB. O mesmo se passará com (F).
  2. Essas condições permitem desenhar circunferências tangentes nas condições requeridas: (C) tangente a (B), (O,R) e (O,r); (D) tangente a (C), (O,R) e (O,r); \ldots.
    Mas nada garante que haja uma circunferência (X) tangente à que a precede e que seja tangente a (F) nas condições requeridas.
    Mas é óbvio que tal acontece se AB=BC=\ldots =XF= FA, isto é, se os centros das circunferências (A), (B), \ldots (X), (F) forem vétrices de um polígono regular inscrito na circunferência de centro O e raio r+s = R-s.
  3. Para que isso aconteça, para que os termos da sequência se repitam ciclicamente (por exemplo de n em n), precisamos que \angle AÔB = \displaystyle \frac{2\pi}{n} em que n seja o número de lados do polígono inscrito em (O, r+s) e, por isso, \angle AÔM = \displaystyle \frac{\pi}{n} e como \frac{AM}{OA}= \frac{s}{r+s}=\frac{s}{R-s}= sin \frac{\pi}{n} pode deduzir-se uma nova relação entre R e r que garanta que a sequência seja cíclica. Assim: s=(r+s). sin \frac{\pi}{n} \Leftrightarrow s\left(sin \frac{\pi}{n}-1\right) =r s = (R-s).sin \frac{\pi}{n} \Leftrightarrow s\left(sin \frac{\pi}{n}+1\right) =R e \frac{R}{r}= \frac{sin \frac{\pi}{n}+1}{sin \frac{\pi}{n}-1}
Se, para duas circunferências concêntricas C_1 e (C_2), podemos sempre encontrar uma sequência de n circunferências (A_i) em que (A_i) é tangente a A_{i+1}, C_1 e (C_2), desde que se verifique a relação entre raios 2.a_i = c_1 - c_2 (c_1>c_2); já para que nessa sequência, (A_n) seja simultaneamente tangente a A_{n-1} e a A_1 essa condição não é suficiente e é preciso reforçá-la com \frac{c_1}{c_2} = \frac{sin \frac{\pi}{n} +1}{sin \frac{\pi}{n} -1} Às sequências que se repetem ciclicamente chamamos Cadeias de Steiner. Na próxima entrada, estudaremos a existência de cadeias de Steiner para circunferências excêntricas recorrendo ao resultado aqui abordado e à inversão.

23.10.13

Teorema de Feuerbach (enunciado e demonstração)


Dados 3 pontos A_1, A_2, A_3 não colineares, há quatro circunferências tangentes às retas A_1A_2, A_2A_3 e A_3A_1: a de centro I (incentro) a que chamamos inscrita e outras de exincentros I_i a que chamamos exinscritas.

O enunciado do Teorema de Feuerbach é:
A circunferência de nove pontos é tangente às quatro circunferências inscrita e exinscritas
Com recurso à inversão, vamos demonstrar este resultado. A nossa construção parte do triângulo A_1A_2A_3, do qual construímos o circuncírculo e a circunferência de nove pontos (tal como fizemos na entrada anterior com notas sobre a circunferência de nove pontos).


Arsélio Martins, 22 outubro 2013, Criado com GeoGebra


Com os botões de navegação ao fundo da janela de visualização, pode seguir os passos da construção, fixando cada parte que lhe interesse.

Demonstração.:

  1. Debruçamo-nos sobre o triângulo A_1A_2A_3, a circunferência (I) nele inscrita e a exinscrita (I_1) (de centros I e I_1 sobre a bissetriz interior A_11 I). Os resultados para as restantes (I_2) e (I_3) serão obtidos de modo análogo.
    • Tomemos as quatro tangentes a estas duas circunferências (I) e (I_1) que determinam duas homotetias de uma na outra: por um lado, a homotetia de centro A_1 definida pelas duas tangentes exteriores A_1A_2 e A_1A_3; por outro a homotetia de centro K na interseção de II_1 com A_2A_3,já que esta última é tangente interior comum a (I) e (I_1).
    • A_2A_3 e XX_1 têm o mesmo ponto médio (ver a entrada em que esse resultado é abordado.
    • Do triângulo A_1KA_3 e do triângulo retângulo IA_3 I_1, considerando segmentos orientados, retiramos que (A_1K;II_1) =-1 (ver inversão de círculos de apolónio). Como H_1, X, X_1 são os pés das perpendiculares a A_2A_3, tiradas por A_1, I, I_1 e a projeção preserva a razão dupla, então (H_1K; XX_1)=-1, ou \displaystyle\frac{\displaystyle\frac{H_1X}{XK}}{\displaystyle\frac{H_1X_1}{X_1K}} =-1 Considerando comprimentos dos segmentos: \frac{H_1X}{XK}= \frac{H_1X_1}{X_1K} e, como H_1X=H_1M_1-M_1X, \; H_1X_1=H_1M_1+M_1X_1 , \;XK=XM_1-M_1K , \; X_1K=X_1M_1+M_1K, podemos escrever \frac{H_1M_1-M_1X}{XM_1-M_1K}= \frac{H_1M_1+M_1X_1}{X_1M_1+M_1K} equivalente a (H_1M_1-M_1X) \times (X_1M_1+M_1K)= (XM_1-M_1K)\times (H_1M_1+M_1X_1) que desenvolvendo fica \;\;\;H_1M_1\times X_1M_1 +H_1M_1\times M_1K - XM_1\times X_1 M_1 - M_1X\times M_1K = = XM_1\times H_1 +XM_1\times M_1X_1-M_1K\times H_1M_1 - M_1K\times M_1X_1 e, por ser M_1 X=M_1X_1, se simplifica em 2H_1M_1 \times M_1K = 2MX^2 M_1K \times M_1H_1=M_1X^2=M_1X_1^2
  2. Tomemos agora a circunferência de centro em M_1 e raio M_1X_1 para circunferência de inversão.
    • O resultado anterior é prova de que H_1 é o correspondente de K pela inversão I(M_1, M_1X^2)
    • Os círculos (I) e (I_1) invertem-se em si mesmos já que são ortogonais à circunferência de inversão: I_1X_1, raio de (I_1), é tangente a (M_1) e perpendicular ao seu raio M_1X_1 que é tangente a (I_1).
    • Como a circunferência dos nove pontos (N) passa por M_1, centro da inversão, tem para inversa um reta (N)' que passa por K (inverso de H_1 que é ponto de (N)) e é paralela à tangente a (N) no ponto M_1.
  3. A inversa de (N) contém uma corda comum a (M_1) e a (N), logo perpendicular a M_1N, paralela a H_2H_3.
  4. H_2 é um ponto da circunferência de diâmetro A_2A_3 (centro em M_1) já que A_2H_2 \perp H_2A_3. H_3 pertence à mesma circunferência de diâmetro A_2A_3, já que A_3H_3 \perp H_3A_2.
    • Quer dizer que H_2, H_3, A_2, A_3 estão sobre uma circunferência (concícliicos), sendo por isso \angle A_1A_2A_3+ \angle H_3H_2A_3 =180^o e \angle A_1A_3A_2+ \angle A_2H_3H_2 = 180^o, situação que se mantém para qualquer reta paralela a H_2H_3
    • Ora (N)' é paralela à tangente a N em M_1 e paralela a H_2H_3, tal como é a reta tangente a (I) tirada por K. E por K só passa uma paralela a H_2H_3.
    • A inversa de (N), (N)', é, pois, a tangente a (I) e a (I_1) tirada por K, ou seja, EF,
  5. Como EF é tangente a (I) e (I_1), inversas de si mesmas por I(M_1, M_1X^2), e (N), inversa de EF, também é tangente a (I) e (I_1) (cada uma inversa de si mesma). \hspace{1cm} \square